Recentemente, fui a um restaurante e, na tentativa de provar que a virilidade de um homem não se mede pela quantidade de carne presente no prato, pedi uma sopa. 'De que é a sopa?' perguntei eu em posse de toda a minha masculinidade. 'É sopa de legumes.' obtive como resposta. Adoro quando me respondem assim, vagamente. Entramos num jogo de charadas para abrir o apetite. Pista número 1: a sopa não é canja de galinha. Agora, a variedade é muita. Desde o gaspacho à sopa juliana, a lista de possibilidades é extensa. As regras do jogo são simples: quanto menos perguntarmos sobre a constituição do caldo, mais ganhamos (hipoteticamente, claro está, que, no fundo, mais não ganhamos que ignomínia). O segundo passo começa com uma decisão muito importante: ficamos por aqui e arriscamos, podendo ser presenteados com uma indesejada sopa de lombardo ou perguntamos algo do género 'desculpe, sabe-me dizer se algum desses legumes constituintes da sopa é alaranjado e fálico?', perdendo, assim, uns pontinhos neste nosso divertimento? Sou rapaz para cravar almoços só para me deleitar com este jogo. Sim, apesar de possuir toda esta virilidade, ainda há uma parte de mim que anseia por crescer.
Uma vez, abordando o jogo de forma mais impulsiva, pedi uma sopa e, quando a empregada principiou 'Uma sopinha? Muito bem, a sopa de hoje é de...' prontamente me levantei da cadeira, encostando-lhe o meu dedo indicador aos lábios num acto quase renascentista. Sussurrei-lhe ao ouvido melosamente 'Não, não digas mais! Surpreende-me...'. O chato desta modalidade do jogo das sopas é que só dá para fazer uma vez por restaurante, pelo que dificilmente nos é permitido o regresso ao estabelecimento.

'Então, filho, e não vamos àquele restaurante que eu gostava muito porquê? Era baratinho e comia-se bem.' 'Pois, avó... Eu também gostava muito mas eles devem ter trocado de cozinheiro ou assim, que a sopa já não é lá grande coisa.'.